quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Passando a limpo


 Robert Doisneau, fotógrafo francês


Seria a vida, enfim, isso mesmo: um contínuo ir e vir?

Um parto eterno, cujo filho nunca nasce inteiro, porque é, antes, a própria contração? Porque é menos a espera de algo redentor que sucessões e sucessões e sucessões de... Todas e cada uma delas. Todos e cada um deles.

Estamos preparados para esse tanto? Ou desejamos, no fundo, uma espécie de vida inseminada, cuja face se conhece antes mesmo de tocá-la, de vê-la, de senti-la?

— Mas o que eu...

— Não! Não se preocupe, mijito. Você logo desejará outra coisa, você vai ver! Logo ficará insatisfeito com o que tem e ansiará o novo. Acontece com todos. Normal. A fila anda e é preciso encontrar outras razões para movimentar essa engrenagem. Natural.

— Mas é que queria tanto parar aqui... Ficar um tempo...

— Peeeraí!!!! Mas e se eu não voltar??? Se não voltar, eu morro?

— Sim. Mas pode ser de felicidade.