terça-feira, 26 de agosto de 2014

Umbigo?

Afrodita, escutura de Alberto Acuña, artista colombiano


Escolher a si próprio no sentido oposto ao do egoísmo, mas do cuidado de si e do amor próprio é um dos gestos mais solidários e difíceis que conheço.

Para quem acha que a solidariedade brota espontaneamente como capim em terreno baldio engana-se. Porque o verdadeiro gesto solidário nasce de um marcado sentimento de autocompaixão. Afinal, o outro só ganha concretude na medida exata e prévia da existência consciente (e quase sempre dolorosa) do si mesmo.

Impossível acreditar, nesse sentido, em doação efetivamente sincera a algo exterior a mim, se não há convicção, a priori, da importância e da infinita beleza do próprio ser.

Há quem costume reduzir essa fórmula em clichês facilmente convincentes que se alastram na velocidade da luz e que vão arrastando hordas de sujeitos cada vez menos convencidos da responsabilidade por suas próprias trajetórias.

Nunca vi humano algum virar santo por se anular por outro ser. Mas já vi muitos enlouquecerem por contabilizarem estupefatos o saldo negativo da equação eu - outros.

Arco-íris de todo dia

por las calles de Cartagena, foto de Juliana Leal


Nem sempre são poéticas as condições de produção da poesia.  As de percepção sim.

É como se se abrisse um fosso espaço-temporal em torno do qual o fluxo cotidiano das coisas seguisse indiferente ao arco-íris que a poesia, sorrateiramente, planta diante de nós e nos inquirisse: “_ Vais recu(s)ar?”