Afrodita, escutura de Alberto Acuña, artista colombiano
Escolher a si próprio no sentido oposto ao do egoísmo, mas do
cuidado de si e do amor próprio é um dos gestos mais solidários e difíceis que
conheço.
Para quem acha que a solidariedade brota espontaneamente como
capim em terreno baldio engana-se. Porque o verdadeiro gesto solidário nasce de
um marcado sentimento de autocompaixão. Afinal, o outro só ganha concretude na
medida exata e prévia da existência consciente (e quase sempre dolorosa) do si
mesmo.
Impossível acreditar, nesse sentido, em doação efetivamente
sincera a algo exterior a mim, se não há convicção, a priori, da importância e
da infinita beleza do próprio ser.
Há quem costume reduzir essa fórmula em clichês facilmente
convincentes que se alastram na velocidade da luz e que vão arrastando hordas
de sujeitos cada vez menos convencidos da responsabilidade por suas próprias
trajetórias.