domingo, 17 de março de 2013

Luxo


Juliana Leal, fotógrafa brasileira amadora

Não dá trabalho amar, não. Dá trabalho é curar a ferida do desamor. Feita da espera inútil, do abraço vazio, do encontro nunca marcado, mas permanentemente esperado. Ferida que lateja pra lembrar que está ali, ainda que não se queira, ainda que se tente, conscientemente, esquecê-la. Afinal, certeza é um luxo do qual a gente não precisa. Nem para o alívio da dor. Pois serventia sempre há para o incômodo. Nem que seja só pra fazer lembrar que a felicidade também decorre dos riscos que assumimos. E que, junto com eles, também está no script um par de dissabores ou de fel no canto da boca.

Não é a toa que o adeus contido já está no encontro; a saudade, no reencontro e o fim tão logo se profere sins.

Que fazer senão reverenciar todas as formas de vida, inclusive aquelas que surgem em nuvens fugidias num céu azul de fim de tarde paraense?

sábado, 16 de março de 2013

Plural


Giovanni Marrozzini, fotógrafo italiano

Pra muitos, mais uma sentença que uma demonstração de afeto. Aprendi na escola.

Coloque no plural!

Pra pluralizar só passando pelo imperativo mesmo. Afinal, quem nessa sociedade do medo, da individualidade patológica, da singularidade que emudece a comunhão que, antes de tudo, quer doar está disposto a incluir sem achar que se está fazendo concessões irreversíveis? Sem deixar de pensar que se anulará na razão exata do espaço que conceder ao outro?

Tolice.

Hordas e hordas de seres, indiscutivelmente singularizados, vagando por aí. Saltando de ser em ser pra sorver de cada um deles, por uma noite, às vezes, até mais, a energia vital da cumplicidade que salva.

Ver um filme, jantar, tomar café da manhã, viajar, fazer compras...

Mire veja: o plural está em toda parte. Inútil singularizar o que só sobrevive com graça entre os nós de nós mesmos.