fotógrafo desconhecido
Minha irmã me ligou hoje dizendo que estavam de
luto.
Elizabeth havia morrido durante o parto. O segundo,
coitada.
Meu sobrinho,
inconsolado, não quis nem falar comigo pelo telefone. Melhor assim, pensei. Não
gostaria de tentar tirá-lo de sua tristeza porque ele precisaria dela pra poder
compreender (será que isso se compreende?), ainda que levemente, que o universo
feminino é muito complexo. Justamente por conter, de modo irremediável,
coisas demasiado duras e outras, assaz delicadas.
Me explico. Antes de
Elizabeth morrer, um dia ao acordar, olhei pra gaiola e vi a seguinte cena: no
tubo colorido, na parte mais alta dele, estava Arthur, seu digníssimo esposo, roendo,
solitário, embora freneticamente, seu amendoim. Seu breakfast de hamster rei.
Na parte inferior do
tubo, os cinco filhotinhos, ainda com aquela pele esquisita sobre os olhos que
os faziam mais parecer girinos, se digladiando para, como bebês famintos, tomar,
como o pai, seu café da manhã.
Elizabeth paradinha, se
mantinha firme. Será que também sentia fome?
Nem quis olhar pros
olhos dela... Ri por dentro e soltei, lembro-me bem, a seguinte frase: “O mundo
animal imitando a vida humana!” E desci, ironicamente, pra tomar meu café da
manhã.
Chore mesmo, meu amor. Mas
sorria. Sorria porque mesmo morta, Elizabeth foi e sempre será rainha. Não foi
esse o motivo de você ter escolhido o nome dela? Rainha porque, como todas as
fêmeas do mundo, é forte, é guerreira e aguenta firme muito rojão. Embora,
seja, como todos os seres vivos, machos ou fêmeas, frágil, frágil a ponto de
ter, quando uma força muito devastadora chega, que ceder ao cansaço e dizer
adeus.