Edvard Munch, pintor norueguês
Então
era isso? Só isso?
Mas
também não tinha porquê ser muito, se o que se espera das coisas é quase sempre
mais do que elas efetivamente podem nos proporcionar. Porque o muito quase
sempre se encontra em algum lugar exterior a esse outro que insistimos em
coisificar. O outro é apenas outro. Com suas contradições e mazelas.
Pra
quê, então, apostar arco-íris no campo minado de nossos escuros existenciais?
A
gente sempre machuca. Sempre se machuca.
Mas
e se nos intervalos da apoteose da dor, for possível sentir a libertação desse inevitável
da vida?
Rajadas
de vazio se preenchem com arroz e feijão?
Não!
Eu não queria gostar mais de você do que de mim. Mas admito, sem culpas, que
sempre fui melhor de verbo que de ação. Eu queria mesmo era me lambuzar com as
possibilidades de vida e de morte da convivência com ambos. E com toda a
complexidade da vida que compusesse seus entornos. Nossos entornos. Até não mais
haver limites... Até não mais haver razões para defendê-los com bambus ou
arames farpados.
Eu
não tinha mesmo nada pra fazer. Qualquer resto de vida, herança dos que sabem
cultivar a família, a despeito de pragas diversas que muitas vezes se alojam no
cotidiano, conclamando a solidão, o vazio, o egoísmo, eu defendia. Eu queria.
Aliás,
o egocentrismo sempre me pareceu a forma mais estúpida de enfrentar a carência,
o desamor, a desesperança, o desafeto...
Por
isso uma e outra vez me perguntava: quanta responsabilidade carrega sozinho um
homem que toma uma decisão por amor? E não falo de amor próprio, hein? Para os
engraçadinhos de plantão, falo de amor pela alteridade. Pelo que se situa justamente
fora de nós e sem o qual não somos nada além de corpos vagando, dia após dia,
pela imensidão do vazio-nada de nós mesmos. Ocos preenchidos, especialmente
agora que estamos em mês natalino, por aquisições cujos sentidos se esgotam
antes mesmo que suas parcelas sejam liquidadas na fatura do cartão de crédito.
Mas
e eu? Quando terei crédito? Quando? Quanto me darão?
Pior
não é nunca ter tido nada pra dividir com alguém. Ruim mesmo é não ter outro pra compartilhar o muito que sem
tem.
Dor
pela sobra e não pela ausência: como se cura isso?
Se cura isso?
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