domingo, 2 de dezembro de 2012

Sobre ocos e apoteoses


Edvard Munch, pintor norueguês

Então era isso? Só isso?

Mas também não tinha porquê ser muito, se o que se espera das coisas é quase sempre mais do que elas efetivamente podem nos proporcionar. Porque o muito quase sempre se encontra em algum lugar exterior a esse outro que insistimos em coisificar. O outro é apenas outro. Com suas contradições e mazelas.

Pra quê, então, apostar arco-íris no campo minado de nossos escuros existenciais?

A gente sempre machuca. Sempre se machuca.

Mas e se nos intervalos da apoteose da dor, for possível sentir a libertação desse inevitável da vida?

Rajadas de vazio se preenchem com arroz e feijão?

Não! Eu não queria gostar mais de você do que de mim. Mas admito, sem culpas, que sempre fui melhor de verbo que de ação. Eu queria mesmo era me lambuzar com as possibilidades de vida e de morte da convivência com ambos. E com toda a complexidade da vida que compusesse seus entornos. Nossos entornos. Até não mais haver limites... Até não mais haver razões para defendê-los com bambus ou arames farpados.

Eu não tinha mesmo nada pra fazer. Qualquer resto de vida, herança dos que sabem cultivar a família, a despeito de pragas diversas que muitas vezes se alojam no cotidiano, conclamando a solidão, o vazio, o egoísmo, eu defendia. Eu queria.

Aliás, o egocentrismo sempre me pareceu a forma mais estúpida de enfrentar a carência, o desamor, a desesperança, o desafeto...

Por isso uma e outra vez me perguntava: quanta responsabilidade carrega sozinho um homem que toma uma decisão por amor? E não falo de amor próprio, hein? Para os engraçadinhos de plantão, falo de amor pela alteridade. Pelo que se situa justamente fora de nós e sem o qual não somos nada além de corpos vagando, dia após dia, pela imensidão do vazio-nada de nós mesmos. Ocos preenchidos, especialmente agora que estamos em mês natalino, por aquisições cujos sentidos se esgotam antes mesmo que suas parcelas sejam liquidadas na fatura do cartão de crédito.

Mas e eu? Quando terei crédito? Quando? Quanto me darão?

Pior não é nunca ter tido nada pra dividir com alguém. Ruim mesmo é não ter outro pra compartilhar o muito que sem tem.

Dor pela sobra e não pela ausência: como se cura isso? 

Se cura isso?


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