domingo, 9 de setembro de 2012

Silêncio azul

Sara Takahashi, fotógrafa amadora

Acho que foi lendo um livro do Rubem Alves que, pela primeira vez, pensei sobre a falta de habilidade com que o ser humano lida com o silêncio.
Sobre essa perseguição, muitas vezes inconsciente, que perpetramos contra essa ausência sonora absurdamente cheia de significados... recusando-nos a senti-la pela crença equivocada de que a palavra falada deva, sempre, preencher o espaço-tempo de nossa existência.
Mas, ontem, conheci um homem silencioso.
Silêncio de olhos azuis.
Olhar que me pareceu há muito haver-se rendido (por opção ou por falta dela?) a uma sonoridade interna absolutamente distinta daquela que o rodeava. Feita de ruídos de visitas que chegavam e partiam; que entravam e saíam de seu quarto, de conversas na cozinha, ao seu redor...
Silêncio que, a despeito de tudo e de todos, mantinha-se absurdamente sereno. Terno. Ainda que toda essa ternura se voltasse, resignadamente, para o chão. O que me deixava convencida de que havia um turbilhão ainda maior de significados nesse gesto solitário. Contraditórios, fugazes... Mas plenamente convictos. Essa certeza eu tinha!
Foi quando senti pena.
De mim.
Pena, por saber que ainda precisarei que meus cabelos fiquem da cor dos dele, pra eu conseguir roçar essa sabedoria que faz com que quem o conheça se sinta, inevitavelmente, mais frágil do que ele.  

Um comentário:

  1. Só uma bomba

    Alguém de vocês já viu o silêncio andar pelas ruas da cidade à noite, enquanto as pessoas dormem? É como se fosse um coração que para de bater(e não pede socorro);um pulmão que para de respirar(e não pede socorro); sangue que para de circular(e não pede socorro). Só uma bomba...

    Hugo Leonardo
    20h55 / 12.9.12





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