domingo, 18 de setembro de 2011

A bola é minha


A bola é minha! Vou embora! Me dá ela aí! Anda; manda ela aí, sô!!!

Faço isso, às vezes, de propósito mesmo. Porque, também, às vezes, me canso dessa chatice que é deixar os outros, em tempo integral, definirem as regras do jogo.

Por isso, às vezes, preciso sufocar esse meu desejo de seguir jogando.

Não se trata de abandonar o jogo e permitir que continuem definindo as regras, mas, literalmente, acabar com qualquer possibilidade de negociação. Ao menos, momentaneamente.

Se me excluem, se me ignoram, se não tocam a bola pra mim, quando isso poderia ser feito, que sentido tem fazer parte da equipe???


Se só existo porque a bola tem existência prévia a mim, então passarei a existir, na marra, porque ela existe. Simplesmente, porque sou dono dela; uai!

É errado pensar assim?

Enquanto os outros não conseguirem me ver além dessa esfera de borracha, estarei de alta. Não brinco mais. Pronto! Tá decidido!

Pena é quando a gente se constrói, sem perceber, em razão desses brinquedos. Pena é quando os outros só conseguem nos definir em razão da posse que temos deles.

É que, sem bolas, não há jogo. E a gente, sozinho, mesmo com a NOSSA bola nas mãos, nem sempre é completamente feliz. É como “ficar com um presente todo enfeitado de presente nas mãos — e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o!”*

Por isso, me decidi: não tô de alta mais. Quero jogar! E de qualquer maneira!

* Retirei este trecho da obra “A descoberta do mundo” de Clarice Lispector. 

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