quinta-feira, 15 de setembro de 2011

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— Vai mesmo! Vai voltar a pé!


—  Pode ir, meu filho! Eu tenho pernas e posso muito bem voltar pra casa sozinha...

Olhei pros cabelos dela, disfarçadamente. Loiros, ondulados. Bonitos. Embora o rosto que os sustentassem revelasse um olhar de boxeador, segundos antes do nocaute. Não do seu, obviamente.

Mas esse era dela. Era sim. E acho que, no fundo, ela, há muito, já sabia isso.

Que fosse!!! —  protestei em silêncio. Também já hospedara olhares como aquele e sabia — nesse lugar confortável daquele que olha a  distância o outro sofrer — que o preço da paz é elevadíssimo e se preciso fosse começar tudo do zero novamente, ainda assim, valeria a pena.

—  Jogue a tolha! — pensei.

Olhei pra ela e, sem pudor algum pela intromissão, disse: — Você é linda, viu? Se enxerga!

—  Pois é! O carro é meu e tenho carteira, acredita? Sou independente financeiramente e...

Interrompi mentalmente seu desabafo e inevitavelmente me perguntei: “— Por quê a gente faz isso com a gente? Por quê???”

Voltei pra casa pensando...

No caminho, uma sucessão de mortes traçou meu percurso: um passarinho esmagado molhado de chuva, um pé de girassol partido ao meio que, dias antes, estava altivo que dava gosto e um cachorro morto dentro de um saco de ração.

Esboçando um sorriso no canto dos lábios, pensei: Quanto aos três, nada se podia fazer, mas quanto a ela... Ah, sim!!! Quanto a ela...


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