Gustav Klimt
Já! Confesso: chorei mais por um animal que por um
ser humano.
Cheguei
a me autopunir por derramar mais lágrimas pela morte de uma chiuaua que pela do
meu pai.
Mas é que ela tava lá todo dia. E ele não...
Mas é que ele me deixava, às vezes, com medo. E ela,
ainda que tentasse, não.
Dia desses, fazia uma caminhada e vi, de longe, um
mendigo, olhando fixamente para um ponto na calçada. Fiquei curiosa.
Inevitável. À medida que andava, constatei que era para um amontoado de panos
que ele olhava. Achei esquisito.
Mais de perto, vi, em meio àqueles panos, a carinha
de um cão. Que, de tão excessivamente embrulhado, só se podia ver um focinho
úmido e dois olhinhos entregues ao cansaço.
Não resisti. E com a mesma “naturalidade” que usamos
pra perguntar aos nossos amigos sobre coisas pessoais, indaguei, tentando
disfarçar minha apreensão: “— O que houve?”
Pausa.
Por um segundo, cheguei a me arrepender por tamanha
intromissão.
E o dono, sem desviar, um só segundo, seus olhos enfermeiros
do cão, respondeu, com a melancolia mais doída que senti na vida: “— Ele tá
gripado...”.
Continuei andando. Mas, dessa vez, em lágrimas e
pensando nessa coisa louca que é se entregar pra alguém. Pra alguma coisa.
Olhei, ainda, um par de vezes, pra trás e o homem
continuava se empenhando — como se em torno dele não houvesse carros e pessoas
indo e vindo — em cuidar daquele serzinho.
Dias depois, escutei estupefata: “— Por que você não
morre, cachorra?”; “— Por que você não morre logo?”
Tenho pena da poodle cinza que mora aqui ao
lado. Pra quem foram dirigidas ditas perguntas. Animalzinho que, muito
provavelmente, não sabe o que é ser amado. E, talvez, por isso, não possa se
doar mais do que, instintivamente, tenta a diário. E inutilmente.
Tenho
inveja do vira-lata do mendigo que vi na rua. A poodle, se visse aquela
cena, também.
Mas
é melhor mesmo que ela não saiba. Porque sua dor seria maior e mais
insuportável. Porque não há maneira de ser infeliz diante de uma entrega tão
total. De um amor tão bonito.
Mas há um turbilhão de sentimentos aqui dentro. E
chego a desejar sua morte, antes que ofertá-los pra algo (ou alguém) que não
possa perceber, sequer, sua existência.
Mas aí vem a danada da Clarice e me tira desse
abismo: “Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém
estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca”.
Compaixão
ResponderExcluirDoei moedas ao mendigo
na esperança de acalmar sua dor
(como se dor de mendigo fosse outra,
senão, primeiro, a fome – dormir se dorme
em qualquer chão; e se cobre
com qualquer jornal; faça ou não,
frio de doer os ossos – um frio de cão).
Como se fosse outra, senão,
a que tinha de um lado minha compaixão;
e de outro
minha indiferença – e minha intromissão
(doei moedas ao mendigo
na esperança de absolvição).
“Olhei, ainda, um par de vezes, pra trás”
até saír de cena
e ser atropelado na contramão.
Hugo Leonardo
21h17 / 24.5.12
pq vc não faz um blog pra vc?
ResponderExcluirPorque preciso de ajuda(s)...
Excluire de umas palavras mais agudas.