domingo, 1 de abril de 2012

Entrega


Camile Claudel, escultora francesa

Impossível não aproveitar a cena para filosofar sobre vazios e ecos de esperança. Sobre esse desespero que é não conseguir dizer pro desejo que o momento e o contexto são inadequados (por Deus!!!!). Explicar pra esse turbilhão de afeto, que parece não ter a menor noção espaço-temporal, que não, não dá. Não dá!!!! Sou eu. Só eu. Eu e Baco, na melhor das hipóteses. O que complica ainda mais as coisas...

Dois são os personagens do meu quadro: um cachorrinho Basset e seu dono, um senhor de uns 70 anos. Ambos, sempre juntos, fazem sua caminhada apoteótica diária em meio a outras tantas almas que vão e vem. Movidas sabe-se lá por quais razões.

Vez ou outra, ele abana o rabo com certa inquietação e o homem, num gesto de extrema dignidade, curva-se diante desse pedaço canino de afeto. Escorando-se em suas pernas, o cachorro ganha dois ou três carícias rápidas (que, tentando verbalizá-las: parecem a gestualização de um: “— É isso aí, garoto!!! Estou aqui, cara!!!”).

O cachorro, profundamente agradecido, goza da plenitude animal (e de ser vivo???) de saber que caminhar lado a lado não é uma decisão vã, ainda que seja uma coleira de couro vermelha o elo material que os conecte.

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