Juliana Leal, fotógrafa amadora
Atenção: tudo o que será dito aqui não passará de variações mais ou menos lúcidas de uma série de clichês e lugares comuns sem os quais parece que, nós, seres humanos, não conseguimos viver.
Elenco três para não ser mais pedante do que necessitarei ser para discorrer sobre eles.
Elenco três para não ser mais pedante do que necessitarei ser para discorrer sobre eles.
1. A lucidez só se apresenta depois de experimentadas doses cavalares de estupidez. Sobre isso algumas divagações: estar lúcido não significa agir corretamente. Funciona, às vezes, a partir de descargas elétricas espaçadas e quase sempre imperceptíveis. Muitos nem as notam. Mas quando as sentem costumam recordar, em flashes rapidíssimos, cenas cotidianas das mais bestas, embora carregadas de uma carga poética que frequentemente revira o valor que a vítima tem dado ao seu tempo presente. Costuma-se sentir descargas elétricas fortíssimas de culpa e doses heróicas de vontade de experimentar algo semelhante de novo. Afinal, cagar é fisiológico, portanto, impossível evitar. Esquisito aqui é cagar justo no poético, quando se sabe que algumas residências acumulam de dois a três vasos sanitários.
2. O aumento da percepção de algo é diretamente proporcional à distância que se toma dele. Aqui, o costumeiro metodismo que exigem as análises empíricas, baseadas em observações atentas e uma necessária proximidade do objeto, não tem nenhum sentido. Vale quase nada. O mandamento é, ao contrario, único e funciona a palo seco: preciso não ter o que amo para me dar conta de que o amo, temperando a receita com um par de suicídios que se dão cada vez que insistimos em rechaçar o inevitável, o que para nós é indispensável, quando escolhemos prazeres de vitrine que nos prometem gozos transcendentais por uma noite e com absoluta discrição. Sem, no entanto, nos advertir que a ressaca dos dias seguintes não será apaziguada com medicamentos de tarja preta, mesmo se tomados por toda a vida.
3. Aproximar a ideia de amor a de posse só se justifica se entendida como um gesto de profundo desconhecimento de si próprio e dos insuspeitáveis limites do próprio ser. Escraviza-se por temor ao impalpável que poderia oferecer o desconhecido? Seria a vida, nesse sentido, uma estúpida repetição do mesmo passo, do mesmo tango, da mesma dor? O que exatamente se pretende quando se diz “te amo”, mas contigo não posso estar? Sadismo a la carte, masoquismo compulsivo ou simplesmente medo de ser feliz?
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