segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

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Juliana Leal, fotógrafa amadora

Atenção: tudo o que será dito aqui não passará de variações mais ou menos lúcidas de uma série de clichês e lugares comuns sem os quais parece que, nós, seres humanos, não conseguimos viver.

Elenco três para não ser mais pedante do que necessitarei ser para discorrer sobre eles.

1. A lucidez só se apresenta depois de experimentadas doses cavalares de estupidez. Sobre isso algumas divagações: estar lúcido não significa agir corretamente. Funciona, às vezes, a partir de descargas elétricas espaçadas e quase sempre imperceptíveis. Muitos nem as notam. Mas quando as sentem costumam recordar, em flashes rapidíssimos, cenas cotidianas das mais bestas, embora carregadas de uma carga poética que frequentemente revira o valor que a vítima tem dado ao seu tempo presente. Costuma-se sentir descargas elétricas fortíssimas de culpa e doses heróicas de vontade de experimentar algo semelhante de novo. Afinal, cagar é fisiológico, portanto, impossível evitar. Esquisito aqui é cagar justo no poético, quando se sabe que algumas residências acumulam de dois a três vasos sanitários.

2. O aumento da percepção de algo é diretamente proporcional à distância que se toma dele. Aqui, o costumeiro metodismo que exigem as análises empíricas, baseadas em observações atentas e uma necessária proximidade do objeto, não tem nenhum sentido. Vale quase nada. O mandamento é, ao contrario, único e funciona a palo seco: preciso não ter o que amo para me dar conta de que o amo, temperando a receita com um par de suicídios que se dão cada vez que insistimos em rechaçar o inevitável, o que para nós é indispensável, quando escolhemos prazeres de vitrine que nos prometem gozos transcendentais por uma noite e com absoluta discrição. Sem, no entanto, nos advertir que a ressaca dos dias seguintes não será apaziguada com medicamentos de tarja preta, mesmo se tomados por toda a vida.

3. Aproximar a ideia de amor a de posse só se justifica se entendida como um gesto de profundo desconhecimento de si próprio e dos insuspeitáveis limites do próprio ser. Escraviza-se por temor ao impalpável que poderia oferecer o desconhecido? Seria a vida, nesse sentido, uma estúpida repetição do mesmo passo, do mesmo tango, da mesma dor? O que exatamente se pretende quando se diz “te amo”, mas contigo não posso estar? Sadismo a la carte, masoquismo compulsivo ou simplesmente medo de ser feliz?

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