sábado, 4 de agosto de 2012

Ipê em flor


Claude Monet, pintor francês

Para Eduardo (in memorian), Leonardo e Simone.

Nunca vi ninguém tecendo elogios para uma flor de ipê, mas já vi muitos suspirando estupefatos, diante de um ipê em flor. Especialmente o amarelo.

Beleza compacta. Coesa. Definitiva.

Chega a ser desconcertante pensar isso no dia de hoje, 20 de julho. Porque, além de ser a data em que comemoramos o dia do amigo, é, também, a data em que uma dessas flores, de um certo ipê aqui de Uberlândia, sem muita força para manter-se junto a outras flores, resolveu se render à agressividade de um vento forte. Desses que surgem do nada e levantam saias, sacodem poeira, deslocam coisas do lugar... Desorganizam tudo, obrigando aos que sofrem sua ação a colocar as coisas novamente em seus lugares (ou em novos lugares), sob pena de obrigá-los a conviver com a lembrança constante do momento em que tudo tinha um espaço, um formato, uma cor, um sabor...

Mas um dia desses aí, quando ceifavam serreletricamente a vida de uma das árvores da minha rua, sob a justificativa de que suas raízes, muito grossas e superficiais, estavam destruindo a rede de esgoto de um dos edifícios, o funcionário da prefeitura me revelou:
— Antigamente, não pensavam muito nisso, mas a melhor árvore para plantar em calçadas é o ipê. Porque sua raiz cresce, quase sempre, numa direção só, para baixo, e se fixa mais profundamente na terra.

Lembrando-me disso, tive certeza: era mesmo ipê a tal árvore de Uberlândia.

Mas também poderia ser qualquer outra, porque plantas podadas ou mutiladas — eu nunca soube muito bem fazer essa diferenciação — conseguem encontrar, a despeito da morte ou de seu prenúncio, pretexto para se refazer.

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