segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Estratégia

Paul Cézanne, pintor francês

Dias há em que preciso me mudar dentro de minha própria casa. Tentativa vã de dar outro abrigo ao que há de mais insuportável em mim.

Outro dia, uma amiga me disse que, quando está triste, muda de lugar os móveis de seu apartamento. Não entendi bem a lógica disso, mas suponho que seja semelhante à que me leva a transferir meu corpo, continuamente, durante o dia, pelos cômodos de minha casa.

Dias há, no entanto, nos quais nenhum lugar consegue resistir ao meu ódio, ao meu afeto. Aí, me estatizo. E insisto. Em pontos. Feridas. Lugares. Lembranças que não param, um só segundo, de ir e vir, de ir e vir... vertiginosamente, a ponto de me confundir e não me permitir saber mais se sigo vivendo precisamente por causa deles ou se me suicido, voluntária e lentamente, por insistir em tomar a pulsação de um sentimento que teve dia, horário e local de sepultamento. Mas que, a despeito disso, ainda encontra, em meu lar e em meu corpo, motivos pra se reinventar a todo instante.

Quando poderei, enfim, descansar?

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