terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pele ou osso?


Nádia Roque, fotógrafa amadora

Pensemos juntos...

Lembra quando se descascava laranja (algumas vezes apostando que a casca não se romperia), se lavava cadarço de tênis? Quando ligávamos pra rádio da cidade pra pedir uma música e dedicá-la a alguém?

Quando se sentava na calçada em frente a nossa casa sem nenhuma razão além da certeza que, logo, logo, uma renca de gente estaria ali junto contigo inventando as mais diversas bobeirazinhas que encheriam o dia de um nada que não faria senão nos empanturrar de alegria?

Chupar manga com sal, jogar adedanha, comer pão com maionese e tomate, responder àquele caderno de perguntas (zilhões delas) que todosantotinha e que todosanto lia as respostas dos outros, buscando não sei bem o quê. Facebook de brochura?

Ir à casa do vizinho e ver novela junto com todo mundo. Ir lá sem motivo, sem razão e, claro, sem avisar. Apenas ir. Sentar no sofá, no chão, na cama do amigo e ficar ali olhando em volta. Rapidamente o motivo de ali estar surgiria. Razão para isso nunca antecedia à visita, era consequência mesmo.

Passadas décadas da ilustração desse quadro de vida, cá estou eu entre livros de literatura, filmes pirateados, trufas de menta e meia garrafa de vinho tinto barato. Tentando morder, em círculos, o rabo de uma coisa definitivamente inútil: insistir em se alegrar rodeando-se de coisas e distanciando-se cada vez mais do inferno da convivência nossa de cada dia.
  

Um comentário:

  1. Eu também fico assim de vez em quando. E gozado que quando era criança e, depois, na adolecência, ocupava parte do tempo ocioso pensando sobre como seria a minha vida de adulto... É tão difícil contentar-se com o presente...

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