domingo, 12 de agosto de 2012

Mochila

Juliana Leal, fotógrafa amadora

Sabia que planejar era fundamental para tomar a decisão de ir, mas compreendia que era inútil pretender embrulhar seu amanhã em redomas. Isso dependeria menos de seu querer do que das variadas histórias que cruzariam com ela. Com a dela.

Mudar de rota, desviar trajetos, deixar-se levar transpondo entulhos existenciais, ambientava o ritmo daquilo que fora rotulado como viagem de férias. Meio lícito, todos concordariam, de desestressar. Espécie de reset ou refresh existencial. Como se fosse possível formatar nossas mochilas... Esvaziá-las para, sabe-se lá quando, voltar a enchê-las com uma infinidade de planos, de percursos pretenciosamente registráveis em guardanapos de boteco.

Mas foi desafiando algumas certezas, inclusive as que as levaram exatamente nesse lugar (cheio de surpresas e estranhos desafios), no qual havia ancorado uma vontadezinha modesta de ser feliz (por uns dias) que teve a lucidez que, em menos de uma semana, seria capaz não só de eliminar o que lhe incomodava, e que ocupava espaço demais, mas de encontrar sentido para a estrada futura que ainda percorreria. Mesmo que o cenário fosse diverso e que os atores fossem outros. Afinal, eles fariam, mesmo que não quisessem, parte indelével da cara de suas próximas paisagens.

Estariam ali. Interferindo nos seus sins e nos seus nãos.

Por isso não hesitou em sorrir de modo sincero para as possibilidades que apareciam diante de si. Uma depois da outra, e se entregar, mesmo quando exausto estava o corpo, ao gosto (ainda desconhecido) das infinitas promessas (de gozo, de fel, de sal, de sol) que surgiram ou surgiriam no percurso. Sorrir e agradecer.

E sentenciou: não burocratizaria mais seu viver. Protocolo em três vias agora só para a felicidade.

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