sexta-feira, 13 de julho de 2012

Celebrar

        Van Gogh, pintor holandês
       
         Parece haver pouquíssimas dúvidas, quando o assunto é celebrar. Pensa-se no outro, com quem dividir o brilho da novidade, com quem compartilhar a satisfação da notícia que, de tão gorda, não pode caber senão em nós e no outro, simultaneamente.
Já se viu guardando uma felicidade só pra si? Ato egoísta, diriam muitos. Mas e se não houvesse com quem partilhar? E se a celebração — longe de significar altas taxas de álcool no sangue, batidinhas nas costas seguidas de um sem-fim de expressões-chave que, de tão repetidas, coitadas, não extraem da gente senão um frágil e, também, ensaiado agradecimento —, por um instante, fosse compreendida menos como uma oportunidade de ser reverenciado e mais como a chance de doar? De doar-se?
É que, ontem, esforçando-me por vencer o que para mim nunca foi algo costumeiro, tentei celebrar uma boa-nova. Repassei rapidamente os personagens (antecipando, mentalmente, o que resultaria como resposta ao convite) e escolhi o primeiro deles: uma amiga. Das antigas.
E foi tentando, timidamente, sustentar o discurso do tim-tim que me vi deslocada, bruscamente, para uma dimensão na qual não contava, definitivamente, estar naquele momento: a dos que retiram a vela dos ombros e a colocam diante dos olhos.
Foi assim que percebi. Foi assim que me percebi. Vi que a celebração dessa minha alegriazinha tinha que acontecer de um jeito diferente. E que o lugar dos que comemoram bem poderia ser o lugar dos que estendem o coração e se dispõem a um nada que, de tão besta, bem que pode resultar no sossego feliz de um corpo prestes a passar por uma intervenção cirúrgica.
Não satisfeita com essa constatação, pensei: abro uma cervejinha, fico feliz e continuo buscando um meio de celebrar... Eis que, aproveitando pra resolver um outro nada com uma vizinha, vejo-me diante de uma mulher visivelmente cansada, humilhada e ferida (moral e fisicamente). Que, em poucos segundos, resumiu sua dor (gigantesca, certamente) em duas ou três lágrimas.
Estendendo dois braços vacilantes em sua direção, vi que o melhor era optar pelo suco que tinha pronto na geladeira, por um guardanapo e pelo meu silêncio. Foi o que fiz.
E celebrei.
Celebrei uma alegria distinta. Muito mais reservada do que aquela que residia em meus pensamentos antes de eu ligar pra minha amiga, antes que tocasse a campainha da casa da vizinha ao lado. Uma alegria sem paetês que me mostrou que deslocar meu olhar para fora de mim mesma poderia significar uma maneira outra de celebrar a dádiva recebida.



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