quarta-feira, 4 de julho de 2012

Hoje, marco A

Mana Neyestani, cartunista iraniano

Se pouco tempo disponível há, pra quê raios tamanha indecisão? Qual o sentido de esticar céus azuis? Dobrar raios de sol? Xerocar gozos inesperados?

Ora bolas! Mas que mal há em protelar a felicidade? Se, como reiteradas vezes, dito já foi, ela finda, cessa, mingua...desaparece?

Que mal há em brincar com a morte daquilo que nos quita el juicio, que nos deja el corazón sobresaltado, el sexo húmedo, cuyos latidos, absurdamente insoportables, nos hacen despertar por la mañana con la mano en el sexo?

Sim! Brinco com a dor porque quando sua vez chega pra valer, mal nos resta fôlego para pedir altas, socorro, arrego, abrigo, guarida. É só soco no estômago. Uma e outra vez. Uma e outra vez.

_ Mas o quê é isso, minha filha? Não te ensinei a pensar? Hein, hein? Nem parece que viveu coisa dura, espora na ferida aberta, fio exposto em mãos desavisadas!

_ Nem parece filha minha!

Ok! Então me fale de amor. Mas só do lado bom. Conteúdo do tipo que encha o espaço-tempo de um relógio-cuco quebrado. Tem como? Não, né?

“Este mundo não se justifica, que perguntas perguntar?”, diz Leminski em Catatau.

É que trago, todo tempo, o mundo pra muito perto e, muitas vezes, não dou conta de fazer a meia-volta. Por isso, dou, uma e outra volta, mas em torno de mim mesma. Então pra quê mundo, se me imundo em mim e nos avessos e entranhas do meu próprio ego?

Pra quê mundo?

Pra quê o outro? Se me infinito nas dobras e contradições de um eu, diante do qual outros eus, o tempo todo, insistem em me te vos tú nós... enjaular, em conceitozinhos facilmente adaptáveis, ao limitado escopo do abcde das questões de múltipla escolha?

Decidido!Hoje marco A!

Que Deus me ajude a errar com dignidade. E, depois da cura, ter ainda fôlego pueril para errar entre as demais opções.

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