segunda-feira, 30 de julho de 2012

Me preocupo com o afeto

René Magritte, pintor belga


Se nós não sabemos o que somos,
como sabemos nós o que possuímos?
Fernando Pessoa


Não é medo de se entregar não. Não se trata disso.
Nunca houve tanta exposição. Tantas oportunidades...
Nunca houve tanta vontade em se lançar nas experiências. Inclusive nas — digamos assim — bizarras.
            O inusitado foi extirpado em favor dessa urgência em ter. Podemos tudo agora!!!
E temos?
E quem se recusa a se atirar nessa aventura contemporânea precisa se contentar em trocar figurinhas com a solidão. Assumir publicamente essa amizade, mesmo sob pena de se passar por depressivo.
Mas será, mesmo, desejo o que nos move?
Entreditos, não-ditos, insinuações... Que saudade dessas coisas!
E essa insistência em provar tudo, com tudo, por tudo... E pra ontem!
Nunca o corpo esteve tão ao alcance de nossas mãos. Escancaradamente disponível.
E nunca a alma esteve tão longe de tudo isso...
Quer saber?
No fundo, mesmo perseguindo-os, ninguém gosta de atingir limites.
Porque chegar é alcançar o fim da estrada. E a constatação da inexistência das curvas... Dessa curvatura que pressupõe deter, ao mesmo tempo, o conhecido e o desconhecido, o esperado e o inesperado, onde depositamos expectativas, anseios..., lugar das promessas (as que se cumprem e as que não)... que modela(m) nossos corpos ao sabor de arrepios, espasmos, taquicardia..., ainda me faz crer na beleza da entrega.
Daquela que se dá na medida exata.
Na medida exata de nossas dúvidas. De nossas incertezas...
Por isso, me preocupo com o afeto...


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