sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tentativa

Marina Abramovic, performer iugoslava

Mal entendia sua própria vida. Mesmo a perspectiva mais visível e explícita de sua existência.
E oprimida se sentia, por ter que explicar, reiteradas vezes, as razões que ainda a prendiam a ele.
— Preciso me respeitar. — justificava inutilmente.

Como tentar ser compreendida se nem, ao menos, era capaz de entender os motivos que a levavam a adotá-lo como seu companheiro diário?

Envolta sob um véu de melancolia, arrastava seu corpo pela casa, como se, nessa tarefa, apostasse todas as suas forças. Por isso, se esforçava para não ficar muito tempo com seus amigos mais próximos. Temia ver-se obrigada a levar adiante essa transfiguração absurda e inútil.

E frequentes eram os apelos que tentavam retirá-la desse universo feito de nostalgia e silêncio e reinseri-la no mundo prático daqueles que têm soluções e justificativas para todos os dramas alheios. Menos para os próprios.

Mas ela...

Ela mal, e sem muita habilidade, se suportava. E entre uma e outra crítica, entre um e outro sermão (sempre movidos por excelentes intenções, admitia), suspirava com a convicção (dolorosamente digna, Deus!!!) dos fracos: “— estou tentando...”.

Mas sabia...

Sabia que, antes de qualquer coisa, precisava responder para si mesma um questionamento que adiaria (para sempre???) sua inserção nesse universo ultraprático regulado pelos botõezinhos on e off :

— O que fazer quando o afeto [seu ele] resiste a dar lugar ao rancor?


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