segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sentido

Michel Duchamp, artista francês

            Há mais de 30 anos, minha mãe faz unhas.

Antigamente, para sustentar duas filhas menores e, hoje em dia, aos 66 anos, por razões, a meu ver, bem mais complexas.

            Semana passada, ouvi, atenta, uma aluna confessar: “Pensei muito durante esses dias... se deixaria ou não de fazer as aulas, mas,... sabe, Ju..., não posso!! É que isso tem um sentido pra mim... que... vai além do...”. E, com os olhos marejados (os dela), lhe dei um abraço forte, sorri orgulhosa e disse: “É que amo tanto...”.

Dias depois, observando a paciência e o apreço que um senhor, vizinho meu, tinha para tampar, com uma massa corrida que escorria sem cessar, oito pequenos buracos feitos na parede da minha sala, foi que entendi que não deveria me desesperar por levar horas para redigir, decentemente, um único parágrafo dos textos que escrevo.

Vendo-o movimentar, sucessivas e incansáveis vezes, a espátula, com e sem massa (pra cima, pra baixo, pra cima, pra baixo...), pra cumprir sua tarefa e eu, diante dele, me digladiado com um verbete mais adequado daqui, uma pontuação melhor empregada ali, para finalizar um artigo, sorri, silenciosa.

Dedicação pede disposição.

Será essa a razão que levaria Antônia, uma das tantas clientes da minha mãe, há mais de 15 anos, a fazer as unhas com ela? Serão mesmo apenas mãos que ela coloca, semanalmente, sobre aquela velha e resistente mesinha de manicure?

E seria tão-somente pelo dinheiro que a gotosa da minha mami leva, às vezes, mais de 3 horas para fazer os pés e a mãos de uma única cliente???

            Suspeito fortemente, porém, que essas razões não se assemelham em absoluto à que levará o filho de outra de suas clientes se, no futuro, fizer Direito, e não Educação Física. Porque dedicação pede amor, independente do status financeiro e social da profissão. O mesmo amor que me leva a chamar de “anjo” uma profissional maravilhosa chamada Cybele Guimarães Chaves.

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