sexta-feira, 15 de junho de 2012

Rodízio de carnes (ou a carne é fraca)


Paz Errazuriz, fotógrafa chilena


Já notaram como ficamos (os que gostam de comer carne, obviamente) animados em um rodízio? A possibilidade de comer de tudo, na quantidade que quisermos, nos imbui de um delicioso poder; não é mesmo?
Aí vem o garçom ou os garçons (no plural, melhor dito, porque são tantos quanto a variedade das “iguarias” que nos oferecem ou que dizem que nos oferecerão) e nos perguntam, sem cessar: “Aceita?” “Aceita?” “Aceita?”.
— Sim, por favor!
— Sim. Obrigado(a).
— Sim.
— Bom... sim...
— Tá...Quero!
— Mmmmm....
— Não...
— Nossa! Acho que não...
— Sim. Mas só um pouco.
— Não.
— Sim.
— ....

E já notaram que a frequência com que eles passam por nossas mesas só aumenta quando nossos sins dão lugar, por indisponibilidade de espaço em nossos estômagos, aos nãos??? Será por quê?
E já perceberam que, logo no início da festança, prática recorrente em muitos lugares, antes mesmo que os personagens mais esperados (picanhas, cordeiros, filet mignons) entrem em cena, vêm eles e colocam, rapidamente, sobre a mesa (sem sequer nos consultar!!!) travessas de arroz, farofa, banana e tropeiro? Por qual razão? Já pensaram nisso?

É...

Liberdade de escolha talvez resida mais em saber o que comer, entre desfiles de opções (linguicinhas, rãs, coraçãozinho...), que degustar tudo sem critério e, no final, não sobrar disposição pra comer a tão esperada picanha.

Talvez, pra aproveitar, de verdade, um rodízio seja necessário, antes, saber diferenciar entre o que realmente vale a pena comer do que deva ser sistematicamente rejeitado. Porque, senão, entre uma banana nadando na gordura e uma travessinha de feijão com farinha de mandioca, o que seria um maravilhoso rodízio de carnes nobres pode se converter em um suspeitíssimo churrasquinho de esquina de rodoviária.

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